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sábado, 11 de outubro de 2014

Texto: O perigo de ficar próximo aos navios.



Um texto esclarecedor sobre o perigo de ficar próximo aos navios que entram e saem do Porto de Santos. Esse perigo não é só para os praticantes de Stand Up Paddle e serve também para canoístas, jet skis e pequenas embarcações que trafegam na área.


O texto original pertence a Camila Pedrosa, Bruno Machado e Rogério Bressa, supistas (praticantes de Stand Up Paddle) e profissionais da Marinha Mercante do Brasil, com colaboração de Flávio Ramalho, presidente da ASUP-CE.

SUP Alerta - o perigo dos navios!

"Quem nunca teve aquela curiosidade de chegar mais próximo das grandes embarcações atracadas no Porto? Dar aquela tocada no costado ou ver de pertinho o leme e propulsores destas embarcações?  Este foi o papo de uma remada de fim de tarde e que inspirou esse texto: o fato de muitos supistas chegarem ao costado das embarcações, manobrarem ao redor delas ou remarem no canal de manobra usado por eles. Pois saiba que essa prática apresenta um alto risco.

Primeiramente, é preciso esclarecer que, por convenção internacional, é proibida a aproximação de embarcações de grande porte em áreas portuárias sem prévia autorização. Depois do atentado às Torres gêmeas, em 2001, os Portos são obrigados a coibir estes eventos, através da aplicação do “Código Internacional de Segurança de Navios e Instalações Portuárias” (ISPS Code).
No entanto, por conta dessa mistura de curiosidade e aventura, muitos se arriscam a remar em áreas portuárias, se aproximando perigosamente de navios desconhecendo os riscos que essa prática pode trazer que vão bem além das convenções marítimas.

Navios e rebocadores utilizam como meio de deslocamento um propulsor (hélice).  E aqui se encontra o risco, pois esses hélices, localizadas nas laterais e na popa (parte traseira) do navio tem a função de deslocá-lo para a realização de uma manobra, como no momento de atracação. Ou seja, simplificando, de uma hora para outra, um hélice lateral pode ser acionada movimentando um enorme volume de água e gerando um refluxo extremamente perigoso, pois pode sugar um supista desavisado para o encontro de seus hélices. Há também de se ter cuidado com o lançamento de âncoras e água de lastro. A bordo, antes de qualquer partida do motor principal, há uma comunicação entre o pessoal da embarcação, que sempre confere se a área esta limpa ao redor da embarcação antes de girar o motor. Mas não vamos contar com a sorte e colocar nas mãos dos outros a nossa segurança.

Abaixo abordaremos os diferentes tipos de propulsão e qual o risco que apresentam.

A grande maioria dos petroleiros atracados no Porto utiliza somente a propulsão na popa (ré), o que consiste de uma grande hélice a frente do leme.
Os hélices podem ser de passo Fixo ou Variável.  E o que seria passo fixo ou variável?
O passo é o ângulo de abertura das pás do hélice. Ao falarmos em fixo ou variável estamos falando do ângulo de abertura das pás dos hélices.
Em uma propulsão de passo fixo as pás do hélice tem um ângulo FIXO, aonde o deslocamento de um navio para avante ou para ré vai depender do sentido de rotação do motor principal dessas grandes embarcações, isso quer dizer que: sentido de rotação para a direita você terá um deslocamento para avante e sentido de rotação para a esquerda, você terá um deslocamento para ré.
Cuidados: nos navios de passo fixo se deve ter cuidado, pois mesmo o navio estando parado no Porto, ele pode partir e parar o motor a qualquer momento e esse processo ocorre num curto período, afim de não mover a embarcação.

No caso do passo fixo, se a embarcação der máquina à ré ocorrera uma sucção daquele volume de água na área da popa, e se nessa hora um supista estiver ao redor será puxado junto daquele volume d’água. Ele não será sugado instantaneamente, mas com certeza o deslocamento de água será suficiente para lhe derrubar e ir lhe puxando ao encontro das pás.
O oposto ira ocorrer se for para avante, pois as pás empurrarão um volume d’água para trás podendo lhe derrubar da prancha caso esteja muito próximo da área.
Em uma propulsão de passo variável ocorrera à variação do angulo das pás do hélice aonde a mudança de deslocamento ocorrera sem a necessidade de inversão do sentido de rotação já que o angulo de abertura da pá ira determinar se a embarcação moverá para avante, para ré ou se ficara parada. Parada? Sim, em navios de passo variável podemos ter o hélice girando sem ter o deslocamento da embarcação, já que nesta situação o passo (angulo) será zero (0). O hélice gira, mas não desloca volume algum de água.

Cuidados: na teoria este tipo de propulsão não deveria apresentar risco, já que não há deslocamento de volume d’água devido ao ângulo de abertura das pás ser zero. Mas muitas vezes o sistema pode estar com uma diferença, isso quer dizer que, o ângulo pode não estar ajustado corretamente e caso haja variação haverá o deslocamento de água.
Thrusters são propulsores que podem estar distribuídos a avante ou/e a ré, e que permitem o movimento lateral da embarcação. Como saber se a embarcação tem thrusters avante ou a ré?
Simples.  No costado ou casco da embarcação haverá a identificação da localização deste thruster, normalmente se da por um circulo com um “X” dentro ou um circulo com o desenho de um propulsor dentro deste circulo. Você saberá que abaixo da linha d’água naquela área do desenho ha um propulsor. Se estiver a avante da embarcação denomina-se bow thruster e se estiver a ré chama-se stern thruster.

Nos círculos em vermelho o sinal que indica presença de bow thruster no navio.

Eles não ficam para fora do casco, eles ficam inseridos no casco dentro de um túnel, que atravessa de um lado ao outro a proa ou popa (bow ou stern) e é protegido por uma grade. Lembrando que os thrusters  também  podem ter passo fixo ou variável, a explicação para fixo e variável é a mesma dada acima e os cuidados os mesmos mencionados acima por termos deslocamento de água. O único cuidado extra é pelo fato das embarcações dotadas deste tipo de propulsão manobrarem sem o auxilio de um rebocador, portanto, a qualquer momento ela pode começar a manobrar para desatracar e se você estiver na proximidade, sentirá a potência dos thrusters e o turbilhão de água criado por eles.
Azimuth thrusters. Para explicar os azimuths pegarei como exemplo um destes ventiladores que temos em casa que ficam girando para os lados. Os Azimuths são propulsores que podem girar 360 em torno de um eixo, embarcações menores utilizam os azimuths para propulsão na popa, a vantagem no uso de azimuths é que com eles não é necessário o uso do leme, dada a autonomia de giro que substitui o leme.
Se os Azimuths forem usados na popa para propulsão, estes ficarão para fora do casco em pares, um de um bordo e outro no outro bordo, ambos a ré.
Se forem utilizados para deslocamento lateral, estes serão retrateis. E o que significa retrátil? Eles recolhem quando atracados, por causa da profundidade no local. Os azimuths também podem ser de passo fixo ou variável, e para identificar um azimuth basta olhar para o casco e verificar se encontra o símbolo de um circulo com um “X” dentro e na parte superior do circulo haverá uma seta.
Portanto, deve-se evitar aproximar de embarcações que estejam atracadas ou navegando, ocasião em que estas poderão ter limitações a manobrar para desviar, devido estarem em águas restritas. Colaboramos assim, com a Marinha no seu papel de garantir a segurança à navegação e a salvaguarda da vida humana no mar."


 Fonte: site SUP Club Brasil

3 comentários:

  1. Muito bom, e creio que a guarda costeira deveria fizcalizar melhor, principalmente no Porto de Santos que já tive oportunidade de constatar o fato.

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  2. Formidável!!!! Informações valiosas, precisas, objetivas e de fácil percepção. Parabéns!!!!

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